Origens

A Família Allen

A história do Palácio Regaleira encontra-se indissociavelmente ligada à família Allen. Com efeito, será esta família a adquirir o imóvel e a empreender amplos trabalhos de remodelação que lhe conferiram a feição arquitectónica que ainda hoje apresenta.

Merece a pena, portanto, analisar, mesmo que a traços gerais, o percurso de alguns dos seus membros mais directamente relacionados com o edifício do Largo de S. Domingos.

Ermelinda Allen Monteiro d’Almeida (1768-1858) – 1ª baronesa e viscondessa da Regaleira

Ermelinda Allen Monteiro d’Almeida (1768–1858) foi a segunda filha de Duarte Guilherme Allen, súbdito britânico e cônsul do Reino Unido em Viana do Castelo, e de sua esposa, D. Joanna Josepha Mazza.

Casou em 1791 com José Monteiro d’Almeida, comerciante que viria a constituir grande fortuna através da casa de vinhos do Porto, Monteiro Dixon & Cª. Viúva aos 48 anos e na posse de grande fortuna viveu, ainda, cerca de vinte anos em Londres e Paris onde frequentou os círculos da alta sociedade, num ambiente de grande luxo e ostentação.

Regressou a Portugal, cerca de 1835, sendo uma incógnita se mandou construir para sua residência o Palácio da Regaleira, ou se o terá herdado dos seus pais.

Como reconhecimento pelo apoio financeiro prestado à causa liberal foi-lhe concedido, em 1840, o título de baronesa da Regaleira, sendo elevada a viscondessa em 1854.

Em Lisboa manteve o seu modo de vida de grande luxo e ostentação, ficando célebres as sumptuosas festas que deu no seu Palácio, no Largo de S. Domingos.

De salientar o seu gosto pela arte, bem patente nos imóveis que adquiriu e onde realizou amplos trabalhos de renovação, assim como nos múltiplos objectos artísticos que reuniu, sendo de destacar a sua grande e valiosa colecção de pintura.

Faleceu sem geração, em 25 de Dezembro de 1858, com 90 anos, encontrando-se sepultada no Cemitério do Alto de S. João.

Maria Isabel Allen (1808-1889) – 2ª baronesa da Regaleira

Sobrinha da viscondessa da Regaleira, Maria Isabel Allen nasceu em 6 de Março de 1808 e era filha de Carlos Manuel Allen, cônsul do Reino Unido em Caminha e de sua mulher, Camila Guilhermina Allen.

Casou com João Carlos de Morais Palmeiro, fidalgo da Casa Real, comendador das Ordens de Cristo e de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e Coronel do Batalhão Nacional. Deste casamento nasceriam dois filhos: Paulo Carlos Allen de Morais Palmeiro, que viria a receber o título de 3º barão da Regaleira e Ermelinda Palmeiro, futura viscondessa de Benavente.

O título de 2ª baronesa da Regaleira foi-lhe concedido em 1854, na mesma data em que sua tia foi elevada a viscondessa. Com a morte de D. Ermelinda, em 1858 e na ausência de filhos, D. Maria Isabel seria a sua única herdeira.

À semelhança de sua tia, também D. Maria Isabel frequentou a alta sociedade do seu tempo, havendo notícia de grandes recepções que organizou no seu Palácio no Largo de S. Domingos.

Nesse Palácio viveu até à data do seu falecimento, em 1 de Dezembro de 1889. O Diário Illustrado relata a ocorrência:

Falleceu no seu palacio a S. Domingos, a sra. baroneza da Regaleira, D. Maria Izabel Allen Palmeiro, 2ª baroneza da Regaleira. A illustre finada contava 81 annos. Nascera a 6 de março de 1808 (…) a srª baroneza ha tempos que se achava doente e ultimamente, na vespera do casamento de sua neta e exma. srª D. Izabel, dera uma queda, motivada por uma congestão cerebral. Desde esse dia ficou de cama, tornando-se cada vez mais grave o seu estado…”[1].

Paulo Carlos Allen de Morais Palmeiro (1842-1898) – 3º barão da Regaleira

Nascido a 20 de Junho de 1842, foi o segundo filho de D. Maria Isabel Allen.

Do seu casamento com Maria Joaquina da Cunha Menezes, em 1865, nasceriam quatro filhos.

Foi fidalgo da Casa Real, adido honorário da legação de Portugal em Paris e comendador da Ordem de Cristo.

Em 1864 recebeu o título de 3º barão da Regaleira.

Granjeou grande popularidade pela vida mundana que levou, facto que certamente terá contribuído para a situação de endividamento a que chegou e que o forçaria a perder grande parte do património que herdara de sua família.

Faleceu em Lisboa, a 22 de Dezembro de 1898. É digna de interesse a notícia que um periódico de então dedica ao acontecimento:

Falleceu hoje, apoz um doloroso e prolongado soffrimento, o sr. Barão da Regaleira, que foi, incontestavelmente, uma das figuras salientes da nossa primeira sociedade. Nas festas elegantes, no Turf-Club, em S. Carlos, em todos os circulos mundanos, emfim, era certo encontrar-se o illustre titular, e em todos elle conquistou sempre grandes sympathias pela sua aprimorada educação de gentleman e pelos seus bellos dotes de caracter. Foi o barão da Regaleira o iniciador e o organizador das batalhas de flores em Portugal. O seu fino gosto artistico, e a sua actividade, tiveram ensejo de se manifestar distinctamente n’essas festas e em muitas outras levadas a effeito com o concurso da nossa aristocracia. O barão da Regaleira teve a sua época. Está ainda na memória de todos a recordação dos bailes sumptuosos do seu palacio do largo de S. Domingos e das festas de sua formosa quinta de Cintra. Mais tarde, revezes da fortuna privaram o d’esse antigo fausto e fizeram com que o barão da Regaleira se affastasse um  pouco da vida elegante que levava.  A morte do sympathico titular é muito sentida “[2].


[1] Diário Illustrado, 2.12.1889.

[2] Novidades, 22.12.1898.