Um pouco de história

História do Palácio da Regaleira

O Palácio Regaleira situa-se numa zona nobre da cidade de Lisboa. A dois passos do Rossio, desde épocas remotas zona central e movimentada da capital, o Largo de S. Domingos é, porém, dominado por dois outros edifícios de grande importância histórica e arquitectónica:  a Igreja de S. Domingos e o Palácio Almada, hoje designado Palácio da Independência, dado o seu importante papel na Restauração de 1640.

De facto, ambos os imóveis se encontram desde há longos anos no Largo de S. Domingos.  A primeira notícia da existência de casas da família Almada na zona do Rossio remonta a meados do século XV, sendo a construção actual de inícios do século XVI.  Por seu lado, a Igreja de S. Domingos vai buscar a sua origem ao século XIII, mais concretamente ao longínquo ano de 1241, data em que foi lançada a primeira pedra para a sua construção.

O então Convento de S. Domingos viria a dominar toda a zona, estendendo os seus terrenos por uma vasta área que lhe servia de logradouro, sugestivamente conhecida por Horta dos Frades.

A proximidade destes notáveis edifícios e também do Rossio constitui vantagem apreciável dado permitir a fácil localização e estudo da zona em cartas e gravuras antigas.

É precisamente o que sucede com o conhecido desenho da autoria de Zuzarte, representando toda a área do Rossio e actual Largo de S. Domingos antes do terramoto de 1 de Novembro de 1755. Nessa gravura podemos identificar, sem margem para dúvidas, pontos chave da cidade de Lisboa, como o Castelo, o Hospital de Todos-os-Santos e a Igreja de S. Domingos.

Trata-se de uma imagem que reveste a maior importância para a história da paisagem urbana da capital, dada a minúcia e fidelidade com que é representada toda esta zona da cidade.  Assim, é possível observar com grande clareza, o Largo de S. Domingos e, na sua face norte, exactamente no local onde presentemente se encontra o Palácio Regaleira, um imóvel apresentando grandes semelhanças com o edifício actual.

Com efeito, apesar da gravura não mostrar toda a fachada – o extremo esquerdo encontra-se encoberto pelo Palácio da Inquisição – são evidentes as semelhanças com o imóvel actual, a saber: prédio de três pisos, fachada principal virada a sul, linhas arquitectónicas sóbrias e disposição simétrica de portas e janelas ocupando, de forma regular, grande parte da frontaria.

Este aspecto, aliado ao facto do vizinho Palácio Almada não ter conhecido ruína por ocasião do Terramoto – houve pequenas zonas da cidade poupadas à catástrofe de 1755 – parece reforçar a possibilidade do actual edifício remontar à primeira metade do século XVIII e ter sobrevivido ao Terramoto.  Poderá até ter sofrido ruína parcial, sendo recuperado posteriormente.

Anteriormente ao século XIX, as fontes escritas que se referem ao local omitem qualquer construção notável antecessora do Palácio.  No entanto, é de salientar que a análise de plantas, dos séculos XVII a XIX, revela que os anteriores imóveis aí assinalados ocupavam uma área de edificação idêntica à actual.

É provável que o edifício tenha entrado na posse da família Allen em período anterior ao de D. Ermelinda Allen Monteiro d’Almeida.  A futura viscondessa da Regaleira tê-lo-á herdado de seus pais, nele realizando obras[1].

A data em que tais obras terão ocorrido é que não é muito clara.  No entanto, a análise do percurso biográfico de D. Ermelinda Allen parece indicar que os trabalhos de remodelação, que dariam ao imóvel a traça actual, terão sido realizados entre 1835 e 1842.

De qualquer modo, o mais antigo registo que se encontra relativo ao edifício, data de 28 de Outubro de 1814 e descreve-o como “predio de casas sito no Largo de S. Domingos  Nºs  14 e 15 freguesia de Santa Justa. Confronta  do  norte e poente com as Escadinhas da Barroca, nascente com predio do dito Largo nº 17 e 18 e sul com o mesmo largo para onde faz frente“[2].

Nessa data, o seu valor venal era de 19.000$000 réis.


[1] José Augusto  França,  A arte em Portugal no século XIX, vol. I, Lisboa, 1966, p. 374.

[1] 2ª Conservatória do Registo Predial de Lisboa, Registo de Descrições Prediais, nº 3998, 28.10.1814.